Como é que a Wikipédia, que é uma enciclopédia editável por qualquer pessoa, consegue ser mais equilibrada e acertar mais do que muitos artigos de jornal e por aí fora? É simples: segue um método que inclui a correcção do erro, um método que quase poderíamos chamar de científico (se não fosse abusar...). Ou seja, a Wikipédia sabe que inclui erros, mas tem um método para os detectar e corrigir e ainda um método para que as várias teorias e hipóteses que são apresentadas sejam interrogadas, testadas e extirpadas quando é o caso.
Desta forma, quando alguém procura Homeopathy no Google, o primeiro artigo que lhe aparece é um óptimo artigo, que não só explica o que é a homeopatia, as supostas bases, bem como a desmontagem de toda aquela areia atirada aos olhos e a explicação dos efeitos percebidos por quem usa esta "medicina" (sublinho as aspas de propósito).
Reparem: nada disto mostra falta de abertura: basta olhar para a página de debate, para perceber que os argumentos pró-homeopatia são aceites à partida, discutidos, esmiuçados e, claro, recusados por fim, não por serem a favor da homeopatia, mas por se revelarem inválidos. (Podem verificar como o artigo explica ainda os poucos casos de estudos que pareceram dar resultados positivos em relação aos tratamentos homeopáticos.)
Há o perigo de alguém ignorar toda a discussão e substituir o texto por uma apologia da homeopatia? Sim, mas não dura mais do que alguns segundos... A brigada mundial de geeks que mantém esta pérola não brinca em serviço!
O Caçador de Disparates
sexta-feira, 15 de março de 2013
domingo, 10 de março de 2013
Perguntas complicadas
- "Se a homeopatia tem mesmo efeito, então se dividirmos um grupo de 100 doentes ao meio, dermos o comprimido homeopático a 50 e um placebo a outros 50 e nem quem administra nem quem recebe o comprimido souber quem recebeu o quê, o grupo que tomou o comprimido homeopático vai sentir-se melhor do que o outro grupo, correcto? E isto acontece quase sempre, correcto?"
- "Se essas bolas lavarem mesmo a roupa, podemos experimentar dividir 100 peças de roupa suja, lavar metade com bola e outra metade sem bola, e no fim será fácil perceber qual foi a metade lavada com bola, correcto?"
- "Se a astrologia é real, será fácil a vários astrólogos chegar aos signos fazendo perguntas por escrito a 100 pessoas que não sabem para que servem as perguntas sem lhes perguntar a data de nascimento, correcto?"
"Provem que não funciona..."
Quando alguém inventa uma patranha qualquer para enganar os incautos e baseia-se em certos fenómenos conhecidos para que esses incautos julguem sentir uma relação causa-efeito entre o uso dessa patranha e algum efeito específico, passa depois a vida a dizer: "Provem que não funciona! Provem quem não funciona!"
Amigos, se eu disser que sou licenciado em ciências astrofísicas, não são vocês que têm de provar que não sou — e o facto de eu parecer licenciado não quer dizer que o seja. (A bem da verdade, não sou nem pareço, isto é um exemplo...)
Da mesma forma, alguém afirmar que um comprimido funciona e esse comprimido parecer funcionar no nosso caso particular não obriga todos os que não acreditam a "provar" que não funciona. O efeito, se existir, será fácil de testar através do método científico. São os proponentes desse efeito, principalmente no caso de esse efeito não fazer sentido à luz da ciência actual, que devem testá-lo. E testá-lo implica tentar provar que não existe, mas isso é assim em toda a ciência. Se sobreviver ao teste mais apertado, mais hipóteses terá de ser aceite como válido, e mesmo assim o resultado tem de ser replicado. Mas esse é trabalho de quem propõe o comprimido, ou bola lavadora, ou método de acertar no futuro, ou seja lá o que for que deva ter um efeito real...
Depois, se essa primeira experiência for válida, será analisada, replicada, testada, atacada... Mas se o efeito for real, não há que ter medo, pois não?
Depois, se essa primeira experiência for válida, será analisada, replicada, testada, atacada... Mas se o efeito for real, não há que ter medo, pois não?
quarta-feira, 6 de março de 2013
O mito do café curto
Pronto, chegámos ao mito que mais tem afectado a cabeça dos portugueses. Não é o mito da bica quântica, mas o mito da bica curta.
Quem quer beber um café mais forte do que o habitual (= com mais cafeína) e, por isso, chega ao balcão e pede um curto — ou quem, por outro lado, pede um café longo ("porque quero um café mais fraco") não está a ver bem.
Um café longo tem mais cafeína do que um café curto, mas o café está mais diluído e por isso tem um sabor mais fraco. Mas o "shot" de cafeína é mais forte.
Mais tarde falamos da ideia de que fora de Portugal não se bebe tanto café...
Profecias, só no fim do jogo
Há por aí uma profecia dum São Matateu ou outro nome do género, que é objecto dum estudo que foi agora publicado, por um "professor" especialista, que parece que leva a coisa a sério e dá a entender que a sociedade é malvada que não dá importância a estas coisas que, como sabemos, são o que realmente importa na vida. "Crise de valores", blá, blá blá, "os jovens isto", blá blá blá, "isto já não era como antigamente", blá blá blá, "já não se dá importância como dantes às profecias dum santo medieval", e por aí fora.
Não vou importunar-vos com os pormenores, nem fazer publicidade a tal disparate, mas reparem nas características de tal profecia:
A) Apresenta uma lista de papas, até ao suposto último papa, que algumas contas fazem crer ser o papa que será eleito agora nos próximos dias. A lista é acompanhada duma pequena descrição de cada papa.
B) A lista diz ter sido feita no século XII e foi encontrada no século XV. Malvada da lista que andou na boa vida...
C) Espantem-se agora: a lista é bem específica e acertadeira nos papas até ao momento em que foi encontrada, no século XV. A partir daí, parece perder os poderes. A única coisa que adivinha é o facto de continuar a haver papas durante mais uns séculos...
Agora, claro, o tal professor e alguns "defensores" da lista argumentam que os acertos da lista entre o século XII e o XV são prova de que a profecia está certa.
Reparem: ninguém sabia da profecia antes do século XV. Aparece a profecia. Espantoso: acerta em papas anteriores ao seu aparecimento, mas afirma que já existe desde o século XII. Milagre!
É como eu dizer, no fim dum jogo, que eu já sabia o resultado, só não quis foi dizer.
Depois há professores que querem vender livros e dizer mal da malvada sociedade que já não dá a importância devida a listas falsas de papas...
(Uma última nota: a profecia diz que o último papa vai chamar-se Pedro. Quase que me atrevo e profedigo que isso não vai acontecer. Quando se souber que o novo papa se chama João, Paulo, Bento, Pio, ou outro nome típico de papa, os defensores deste documento vão, certamente, dizer que esse nome quer dizer Pedro numa língua qualquer. Até aposto que é a na língua maia.)
segunda-feira, 4 de março de 2013
Formas de evitar disparates
(1) Não confiar cegamente nas nossas impressões. Se tomamos um comprimido e ficamos um pouco melhor, isso não prova nada em relação ao comprimido. Se tivermos uma impressão em relação a uma pessoa, essa impressão não é a última palavra em relação a essa pessoa. Se virmos um francês a correr, não quer dizer que os franceses andem todos a correr. Se tivermos a impressão que o nosso signo bate certo, isso não prova grande coisa. E por aí fora. A ciência existe para testar as nossas impressões e as nossas intuições. Já todos devíamos saber que as impressões e as intuições são muito falíveis. Afinal, o Sol parece andar à volta da Terra, não parece?
(Continua...)
Fonte da imagem: http://matematica.no.sapo.pt/optica.htm
domingo, 3 de março de 2013
"Tomar banho depois de comer faz muito mal."
Não vou arriscar desmontar esta ideia e depois ter alguém a dizer que se sentiu mal por ter tomado banho depois de comer e a culpa é minha. Só duas observações:
A) Há muitas razoes para as pessoas se sentirem mal... Será que haver uma má disposição depois de tomar banho, num caso apenas, ou em casos isolados, prova alguma coisa?
B) Perguntem a vários médicos a opinião. A sério. Eles hão-de conhecer bem o corpo humano, certo? Ou, se a ideia for verdadeira, hão-de conhecer muitos casos de pessoas que tomaram banho depois de comer e se sentiram muito mal (ou nunca mais tomaram banho...).
A resposta se calhar será algo do género: se a água estiver à temperatura ambiente, não faz mal nenhum. Mas perguntem, não confiem em mim neste assunto...
Fonte da imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hotel_de_Maya02n4272.jpg
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